Cotidiano fora do comum

, Posted by Q3 Motor Press at 21:04

Nunca fui de queixar-me sobre a vida. Ainda mais em público. Jamais fui muito aberto para explanar sobre as particularidades do meu dia-a-dia. Quem me conhece sabe que sou gente boa, mas não muito aberto ao diálogo. Se fosse um piloto da F-1, implacavelmente, seria o Kimi Raikkonen. O finlandês. O "homem de gelo". Com pouquíssimas expressões, reações e sentimentos. Não que eu não tenha, mas que ficam presos a mim mesmo.

Porém, hoje algo tocou o meu coração. Antes de qualquer coisa, não quero ser julgado como babaca, bundão e nem mudar o enfoque deste blog, que é sobre automobilismo, quase que exclusivamente. É claro que em alguns casos extras, podemos postar alguma coisa que fuja deste universo.

Pois bem. Assim como milhares de jornalistas espalhados pelo Brasil, eu sou mais um daqueles que precisa exercer uma, duas, três ou se for preciso, até dez profissões para sobreviver. Além de escrever, fotar, dentre outras atividades do ramo da comunicação, eu tenho mais uma atividade paralela. Hoje, assim como em todos os dias normais, eu acordei e fui direto para o computador postar algumas news do mundo do automobilismo. Sempre não dá tempo para muitas coisas. Muitas firulas. É sempre jogo rápido, pois, após as atividades de jornalista, tenho que tomar banho, almoçar e partir para o trabalho formal.

Assim como a maioria dos brasileiros, tenho que me locomover de ônibus. Porque para trabalhar de carro, haja salário para dar manutenção. Para tirar o "caranga" de dentro da garagem, só em casos triviais. Só que hoje foi um pouco diferente. Sai de casa puto da vida, por motivos familiares, o que é normal para qualquer pessoa. Fui para o ponto de ônibus mais cedo. Peguei a condução às 13h50, sendo que o normal para chegar ao serviço, com sobras seria às 14h10.

No ponto final, embarquei. Como de costume, sempre fico no fundo do ônibus e em pé, para ter a sensação de que a viagem passa de forma mais rápida. Tudo normal até então. Dez minutos de trajeto. Puxei a companhia. Estava programada a minha descida do ônibus, já que o destino final se aproximava.

A parada do ônibus deveria estar programada para menos de quarenta segundos, quando uma mulher me chamou e perguntou: - Moço, você já vai descer? Rapidamente eu virei para trás e disse que iria descer naquele ponto. Com o dedo indicador, chamava-me para perto dela: - Moço vem aqui. Eu preciso te falar uma coisa. Mas abaixa porque o que eu preciso te falar, ninguém neste ônibus pode saber. Eu, surpreso, obedeci ao comando.

A mulher de média idade, vestida com roupas discretas, nos tons de rosa claro e cinza disse: - Jesus vai te alcançar. Receba de Deus a sua vitória. Arrepiei. Fiquei sem muitas reações diante das palavras ditas por aquela senhora, com toda a convicção do mundo. Com uma confiança fora do comum. Muito maior do que eu mesmo poderia depositar em mim. Sem muitas reações, só respondi ‘amém, amém’.

O ônibus parou. Eu ainda todo arrepiado, sem saber quem era aquela pessoa, porque me disse aquilo ou se me conhecia de algum lugar. Desconcertado, e com o emocional abalado positivamente, segui para mais um dia de trabalho. Revigorado. Com a confiança de um leão, minutos antes de atacar uma presa. Não sei quem era aquela mulher. Também não me interessa descobrir. Mas que ela tenha muita sorte na vida. Porque a minha, com simples palavras, ela já mudou. 

Tiago Rafael, colaborador da Q3 Motor Press.           

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